Sou poeta do sertão
Quando o céu azulejou
Ressecou meu coração
Até o sangue se escoou
Pelas veias do sertão
Minha pele amarelou
Sou poeta do sertão
Minha pele enrugou
Mas o meu sobrolho não
Pois quem já se acostumou
Com a seca do sertão
Faz no pó o seu poema
Com o dedo indicador
Pois que dura toda vida
Como o verdadeiro amor...
No sertão, moço, nem vento
No sertão, moço, nem água
Só tem mágoa e pensamento
Na comida e na comida
Eta nostalgia braba
Eta vida descabida
Desespero e oração
No sertão têm mesmo tom
Sol e dó e sol e dó
Boi berrando não tem mais
Boi morrendo e cafundó
De vez em quando um capataz
Vou é repetir o tom
Sou poeta do sertão
Minha pele amarelou
Como o verdadeiro amor
Valentia e teimosia
Sertanejo tem de sobra
Pra cumprir sua desgraça
E compor a sua obra
Seu destino ninguém traça
Herói do caos
Pele de cobra
j. a. pelegrina, 20/01/95
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