quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Blasé (Arco Descendente)

Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.
Macário – Álvares de Azevedo
Jogado na calçada
Camisa amarrada ao pescoço
Dois PMs na cabeça
Fazendo alvoroço
Na madrugada quente

O meio fio interminável
Silenciava minhas lágrimas
Fortalecia minha mágoa
Por azar inacabada
Desde a nascente de Outono

Se houver Natal e Carnaval
Se houver do que rir e chorar
Pouco me importa a Tempestade
Quando aguar o meu conhaque
E apagar o meu charuto

Vulto retinto de tanta sombra
Sem frio, calor ou ímpeto
De mágoa um pouco airado
Ciente de mim e completo
Duradouro, porém finito

Na madrugada quente
Fazendo alvoroço
Dois PMs sem cabeça
Jogados na calçada
Camisa amarrada ao pescoço


j. a. pelegrina, 05/08/2010