A injustiça do mundo! O que faço com ela? Sinto seu cheiro... Olho em seus olhos... Abalroo sua derme E sinto sua existência Maior do que a minha.
Ela possui todos os sentidos E todas as armas contra mim
A injustiça do mundo Essa hermafrodita oleosa Lés a lés e semovente E especialmente bela Aos olhos de seus filhos
O que faço com ela? Sinto seu cheiro Olho em seus olhos Que me hipnotizam Olhos de mormaço... O que faço para esquecê-la?
Convivo com todos seus adjetivos. A injustiça silenciosa do mundo retumbante.
A injustiça do mundo, véio! A injustiça do mundo, mano! A injustiça do mundo, tio! A injustiça do mundo, irmão! A injustiça do mundo, doutor! A injustiça do mundo, excelência! A injustiça do mundo, amigo! A injustiça do mundo, pai! A injustiça do mundo, filho! A injustiça do mundo, espírito santo! A M É M, M Ã E!!
Você mora dentro de mim, tristeza E a beleza da solidão é feia Sempre que me sinto incoerente
Mas não vou romper a veia Quebrar o vaso onde bebo sentimentos
Há momentos bons e outros Que não serão lembrados Em dias de alegria descomunal
Atear fogo agora é tarde e fortuna Há dunas e diques Perfazendo orlas e muros Há ventos e furos Tanta coisa indene no mundo Resgatada do meu ódio inconveniente
As águas virão suaves Prosopopéias de algas e sais Mais do que magia, coerência Da felicidade que virá habitar em mim
Essas ruas têm noites Sorrisos e choros Essas ruas têm moitas De concreto e de ouro Essas ruas que são Liberdade e prisão Multidão e saudade Deus não pisa não
Essas ruas que têm Ladrões de verdade Essas ruas que são Toda uma eternidade Essas ruas se acabam Logo pela manhã Com restos que nem O diabo abocanha
Essas ruas são frutos De muitas paixões Essas ruas têm vultos E têm emboscadas Essas ruas também Têm nós e gravatas Que deus não desata E o diabo detesta
Essas ruas por fim É sampa no avesso Essas ruas no mapa Têm dois endereços Essas ruas são feitas De grana e carne Tanto a servir Que “Deus & Diabo” Não arrisca invadir.
Como um louco Um desvairado consciente Um policial noir da zona leste Num dia de sol poente Tarde luminosa De crepúsculo esfaimado Juntei numa tralha Meus estorvos tecnológicos Joguei no terreno baldio Meti o pé em cima, ergui o braço E gritei para que me ouvissem:
- Tecnologia de bosta - Do marketing agressivo - Das crueldades de mercado - Das transnacionais escravocratas - Das hipocrisias constituídas
Gritei aos meus vizinhos De quarenta anos vividos Pobres como eu Periféricos como eu Cultos e incultos como eu Pedi ao meu Deus Que não me considerasse blasfemo Pedi aos meus amigos Que me abandonassem um pouco Pedi aos meus filhos Que me compreendessem mais Pedi a minha mulher que se calasse um minuto E depositei em meus ombros Responsabilidades vicinais
Não quero saber da áfrica Não quero saber da Ásia Não me interessam tsunamis E pobres afogados na fome Pouco me importa a globalização Estou cansado, muito cansado E tenho vontade de chorar Mas sou fodido macho de bordoadas De não sentir dor qualquer
Interessa-me apenas o que sou Estou farto, mas não gasto Não sinto gastura qualquer que me encrua Sinto-me livre como nunca
O que sinto é uma ausência De terras e árvores e águas com peixes E pássaros que cantam E cigarras vespertinas e vagalumes E grilos incautos e grelos noturnos perfumantes E ruas sem asfalto e sem calçadas E músicas e tintas do tempo Que se consideravam arte Alimentos de almas refinadas
Sinto um vazio de algo Que não sei explicar Não sinto medo, sinto ausência Sentir ausência é pior Do que sentir qualquer outra coisa.
Devo continuar estes versos? Não terminaria nunca... Pois o que sinto não tem começo Tampouco fim.
Quem disse que São Mateus é biboca?
E disse que além de biboca
É broca viver com os manos?
Quem disse, não suportará porrada!
Não é porrada tanta, mas esporro na alma.
Porque os caras chegam junto?
E assaltam no semáforo?
E compram a pedra louca
Que não é pedra angular do sistema vigente?
São Mateus é pedra de função
E pedra de função
É o risco de viver feliz
Mesmo o trampo raro matando de fome
E a pilantropia temperada de água benta.
São Mateus não é Higienópolis.
Como quem pensa que a guerra
É Higiene do mundo
De fazer passar bem higienopolitanos
Que também cheiram, viu moço, e defecam
Na mesma louça onde cagam os pobres.
A guerra dos roses?
A guerra dos browsers?
A guerra quente e fria?
A guerra etnosafada
Que esmerilha a raça!
São Mateus morre de alegria
De saber-se sã
Entre bichas, anarquistas, democratas,
Conservadores, cibernautas e gente simples
Que sabe ganhar dinheiro honestamente:
Professores, comerciantes, jornalista, catadores
De papelão, de lata, de ilusão e doutros, Viu?