sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Meninha... (Arco Descendente)

(contemplação no semáforo do Paraíso – a amputação começa no título)

veja aquela meninha
vindo ali toda sujinha
...não é do punjab...!

brasileirinha e descalça...
- não chore ou babe
globalmente, canalha!

- globalizado ou não
o mundo, meu irmão
é limpinho e imundo

e a menininha vem chegando
balinha na mão que “ocê” odeia
“um real” – abaixa o som, porra!
escuta a voz da menininha:
discursinho decorado...

e a bala é horrível
o semáforo enroscado
o tráfego...
os trâmites cognitivos do saber...

o chope esquentaria
o posto de gasolina logo ali...
- um bósforo
- um fósforo
- um gesto ígneo e pronto!

mas...não!!

toma à direita
que a esquerda é contra-mão
estaciona e pede um scott , porra!


j. a. pelegrina, 04/10/2003

Visão de Mundo (Arco Ascendente)

Visão de Mundo
De mundo
Em mundo

Mundo mondongo
De mundo imundo

Do camundongo
Mundéu sem rumo
Moldando o mundo

Mundoneroso
Palavra-ônibus
Do submundo
Do mundinhoso

Do Digimundo
Dedo no mundo
Mostra o mundinho
Mundeletrônico
Do mundo beat
Ao bitmundo

Inunda o cérebro
De mundureba
Palavra-ônibus
Palavra-mundo

Munduniverso
Do Olorumundo
O nosso mundo
Mundéu de versos
Diversos mundos

Amaro Mundo
Mundo Orama
Amar o Mundo


j. a. pelegrina, 18/02/2011

Dona Moça (Arco Descendente)


Trova de Verrina,
ou Uma Ova!


É! - dona moça bonita do banco
e de algo além de formidáveis ancas
não vou ficar abobado as tantas
pois não sou besta de quem me guia
nasci pra vigiar belas e tantas
e me deslindar de quem me vigia.

É! - dona moça do banco bonita
além de mim há outro que a fita
mas vou lhe arrancar a grita!
- infindo clamor de uma só mulher
é a lei do macho que jamais hesita
- fazer da mais bela: coisa que se quer!

É! - dona moça sem qualquer guarida
escrita sua sina - nunca foi lida
esqueça e se deixe combalida
sua alma – e sua carne que me pertence
não quero comer sem beber da vida
a aragem amaviosa que me enlouquece.


j. a. pelegrina, 23/12/2010

Meu Pai! (Arco Ascendente)

Eu estava conversando
com meu Pai – e disse:
Pai, agora não! Não é hora!
O mundo é feito de Música,
acepipes intrigantes,
bebidas inebriantes e inteligentes,
seres femininos de causar êxtases
e conflitos que me farão scholar
como nenhuma escola
me fez alguém de saber tanto
com o manto da vida impudica
a me cobrir de honras.

Sou um home feliz
cheio de coisas que não me explicam,
não me explodem nem me detonam
tampouco me denotam e não sei explicar;
mas que me causam felicidades.

Felicidades, sim! – pois há mais de uma!
Exclamo, porque a língua de verdade
deve repletar-se de exclamações!

A língua-linguagem
de letras e formas,
sentimentos e frialdades
de interrogações e pontos finais;
esta língua de humaníssimas interioridades
me faz zanzar entre neurônios e teclados.

Pai, seja a Babel realidade
nos livros insanos que aprendemos
junto a cada tropeço incorrido
de evangélicos e católicos retintos.

Seja o que for, Pai, de erros
lógicos, intuições absurdas
e heurísticas inebriantes sem sentido.

Amo a vida, porque se chama
esposa, filhos, amigos, memórias
masturbações relegadas
à adolescência fustigada.

Amo porque estou vivo
de viver com entusiasmo
como me revelou
meu excelente amigo!
Amo, porque estou vivo!


j. a. pelegrina, 06/02/2011

A Parturiente - (Arco Descendente)

a falsífica parturiente
e os asseclas dela em volta
simulavam dementes
à luz a prole solta

o namorado emputecido
descria ou duvidava
em virtude do ácido
que há nove meses tomava

pela janela olhava insano...
jogou-se como quem
salvasse-se do transtorno
sumindo em salamaleques

a deus – malgrados!
ódio – aos anjos ébrios
e os gestos desazados
com pensamentos réprobos

os asseclas viraram cinzas
o femeaço caiu no mundo
a pústula insiste ainda
no seu útero profundo

lesma desgovernada
já não serve à indecência
feia e desbordada
deu-se à claudicância

olhando para os céus
vê o amado flutuante
em miniatura nos seus
lacrimejares constantes

e asnos cuspindo alho
com perdigotos de sangue
flagelam o espectro que olha
a amada outrora azougue

farpada pelo destino
a bela, a puta, humana
arrasta consigo um menino
vitrificado em porcelana



j. a. pelegrina, 07/06/2003

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vassoura (Arco Ascendente)

Coloque a vassoura no colo
E pense no que ela significa
No seu colo como vassoura
Pense no seu colo como algo
Que significasse para a vassoura
E o que significa colocar sem
Que haja momento azado
Nas asas de um vôo encalacrado.

Pense na desordem da piaçaba
Perdendo-se na chã dos tempos
Hoje de asfaltos descolados
Da natura benfazeja latinizada
Pense na desordem deificada
Nas clausuras monetárias dos anjos
Dentro de cofres esotéricos
O que significa isto para a vassoura
No seu colo ou varrendo coisas?

Mas ela no seu colo é menos
Objeto tanto e pouco de vassoura
Outros quinhentos e não aqueles
Que se quisessem objeto sem frêmitos

Pega e varre inclusive a exaustão
Além da poeira e seixos e galhos
E galhofas do seu pensamento
E folhas secas de outrora e não essas
Sadias de um verde que não se perpetua

Vassouras marchando em riste
E outras - vindas de roldão
Não para limpar o chão de um sujo incerto
Que não lhes vale a porcaria da liça
Mas um tropel leporídeo carregando
Um ovo polvoroso no dorso negro
Que um dia explodirá no colo de um incauto.

j. a. pelegrina, 06/02/2009

Pele de Cobra (declamação dum sertanejo) (Arco Ascendente)

Minha pele amarelou
Sou poeta do sertão
Quando o céu azulejou
Ressecou meu coração
Até o sangue se escoou
Pelas veias do sertão

Minha pele amarelou
Sou poeta do sertão
Minha pele enrugou
Mas o meu sobrolho não
Pois quem já se acostumou
Com a seca do sertão
Faz no pó o seu poema
Com o dedo indicador
Pois que dura toda vida
Como o verdadeiro amor...

No sertão, moço, nem vento
No sertão, moço, nem água
Só tem mágoa e pensamento
Na comida e na comida
Eta nostalgia braba
Eta vida descabida

Desespero e oração
No sertão têm mesmo tom
Sol e dó e sol e dó
Boi berrando não tem mais
Boi morrendo e cafundó
De vez em quando um capataz

Vou é repetir o tom
Sou poeta do sertão
Minha pele amarelou
Como o verdadeiro amor
Valentia e teimosia
Sertanejo tem de sobra
Pra cumprir sua desgraça
E compor a sua obra
Seu destino ninguém traça
Herói do caos
Pele de cobra

j. a. pelegrina, 20/01/95